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Mayumi Sato

Passei o Carnaval numa festa de swing com mais de 1.500 pessoas, e você?

Universa

01/03/2020 04h00

Eu e a Equipe trabalhando para o povo transar!

Se tem uma época do ano em que a gente costuma acumular boas histórias pra contar, essa época com certeza é o Carnaval. Esse ano, pra mim, não foi diferente. No começo de 2020, fiquei sabendo de uma festa que acontece há 7 anos no Sul do Brasil e reúne mais de 1.500 casais de swing. E é claro que eu não poderia deixar de participar!

Para ficar claro, (infelizmente) não fui à passeio. A rede social de swing da qual eu faço parte patrocinou o evento, por isso fui com a minha equipe com a missão de trabalhar por lá. Mas é claro que nem tudo é só trabalho: pude matar a minha curiosidade e descobrir o que realmente rola num evento como esse. E, olha, o babado é certo!

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São três dias de festa, a abertura acontecendo numa casa de swing tradicional da região e os dois dias seguintes em um espaço de eventos montado e customizado especialmente para a ocasião. São nesses três dias que casais do Brasil inteiro se encontram, se divertem e, óbvio, transam.

O primeiro dia de festa

O primeiro dia funciona como um esquenta. Muitos casais ainda estão chegando na cidade para curtir o evento principal (que acontece no dia seguinte), por isso, na abertura nem todos estão por lá.

Por ser numa casa de swing, a capacidade de público é um pouco menor: em torno de 700 pessoas, entre casais e pessoas solteiras. Ao contrário do que você pode imaginar, ninguém vai pra lá totalmente nu: o clima é de balada, com looks super produzidos e sensuais, muitos drinks (que nesse dia são pagos — e muito bem pagos!), dança e gente que gosta de ver e ser vista também. Mas, como é de se esperar, o tesão está no ar! Em pouco tempo de pista a galera começa a se animar e a pegação começa a ficar mais forte.

Se você nunca foi à uma casa de swing, saiba que sexo mesmo não acontece em qualquer ambiente. Há o que eles chamam de "labirinto": corredores, salas, quartos e outros ambientes com a iluminação mais baixa, dedicados ao sexo, ao exibicionismo e ao voyeurismo.

Confesso que acabei não me aventurando muito por ali, mas só de espiar já pude ver casais se pegando, trios, grupos, mulheres transando e sendo observadas por uma platéia animada. Ainda assim, o clima era de esquenta, porque foi no segundo dia que o bicho pegou pra valer.

O segundo dia de festa

Apesar de o evento iniciar na sexta-feira, é no sábado que a coisa pega fogo e a festa realmente acontece. Além de ser o dia principal, é o dia open bar também — o que faz toda a diferença. Produzida em um espaço de eventos grandioso, a festa contou com uma estrutura interna e externa, food trucks, camarotes, espaços VIPs, vários bares espalhados e até espaço make para a mulherada retocar a maquiagem no decorrer da noite. Eu definiria tudo como: impressionante.

Sei que não sou parâmetro, já que a última balada que fui rolou há aproximadamente 300 anos, mas senti que aquela festa não fazia feio em relação a nenhuma outra. Infraestrutura de festival, mesmo.Os casais começaram a chegar lá pelas 23h, mas foi entre meia noite e uma da manhã que as coisas começaram a ficar mais quentes.

Aos poucos, era possível notar muitas trocas de olhares pela pista, casais se admirando, conversando mais pertinho. Carícias eram trocadas ao som de música eletrônica, mulheres se beijavam, os homens observavam o movimento com olhares de malícia e essa era a deixa para que o grupo fosse a um lugar mais reservado, no labirinto, para transar.

O dress code era fantasia, mas ninguém se apegou a um tema específico. O importante era se destacar na multidão e eu vi personagens de filmes, animes, uniformes, fantasias futuristas e do passado também e, claro, muita gente seminua. Nesse dia, estimo que foram umas 1.500 a 2.000 pessoas — o que foi um número muito bom para o que o espaço comportava. Havia espaço para todos. De lugares para curtir e para sentar até, como vocês devem imaginar, para transar também, afinal, numa festa como essa não poderia faltar um belo e gigantesco labirinto, pronto pra receber quem quisesse gozar entre uma música e outra.

A maior parte do público com certeza era de casais, com mulheres bissexuais (ou bi curiosas) e homens héteros. Isso era perceptível pela pegação que acontecia na pista. A idade, se não me engano, devia variar entre 25 e 45 anos anos, no máximo. Poucas pessoas fugiam dessa faixa etária. As mulheres eram todas deslumbrantes, bem no estilo Barbie, sabe? Só que Barbie sarada, que fique claro. Loiras, bronzeadas, com cada músculo do corpo devidamente malhado e sorrisos mais brancos que mentex.

Os homens não ficavam para trás, o que me surpreendeu. Geralmente, em eventos de swing, as mulheres são mais vaidosas e os caras mais descuidados, mas nessa festa a vaidade parecia mais equilibrada e muito bem trabalhada. A propósito, as solteiras e os solteiros não ficavam para trás. Só gente bonita-padrão mesmo, de dar gosto a núcleo rico de novela da Globo.

Já no início da madrugada a festa pegava fogo, com casais, trios, grupos, beijos, mãos e línguas que não acabavam mais. Estava bom de ver a empolgação geral, o clima muito animado, aquela sensação gostosa que a gente sente ao ver muita liberdade  para diversão e, ainda melhor, com respeito.

E, bom, eu gostaria de ter mais detalhes picantes pra contar, mas a verdade é que é de muito bom tom não sair contando tudo o que se vê num evento como esses. Os participantes são selecionados a dedo pelos produtores do evento e não é por acaso: para continuar bem-vindo a esse tipo de festa, discrição é a alma do negócio.

Dito isso, já no início da madrugada, nós que estávamos a trabalho descemos nossa bandeira e fomos descansar,  para cumprirmos bem nosso papel. Foi o suficiente 🙂

Terceiro dia de festa

O terceiro dia começou cedo, no mesmo espaço do evento do dia anterior, e rolou mais em um clima de despedida, ressaca e contagem regressiva para o ano que vem. Acredito que boa parte das pessoas já tinha ido viajar ou já tinha curtido demais até ali. Era realmente o fim da festa.

Veredicto Final:

Se você é da turma do swing, precisa conhecer essa festa. A má notícia é que ela não é aberta ao público e por questões de segurança e privacidade, pouca coisa sobre ela pode ser revelada (o local exato e o nome da festa, por exemplo, não podemos contar a ninguém). Para participar, você precisa conhecer alguém que já participe ou dar sorte de ser selecionado pelos organizadores. Casais — de verdade, não de ocasião — costumam ter mais sorte nessa. Poder desembolsar uma boa quantia para estar lá (somando ingresso, estadia e deslocamento) também faz toda a diferença.

Sobre a autora

Mayumi Sato é meio de exatas, meio de humanas. Pesquisadora e diretora de marketing do Sexlog quer ressignificar a relação das pessoas com o sexo e, para isso, acredita que é preciso colocar a mão na massa, o que inclui decodificar o comportamento humano. Ao longo dos anos, estudando e trabalhando com o mercado adulto, passou a fazer parte de uma rede de mulheres interessadas e ativistas no assunto, por isso sabe que não está – não estamos – só. Idealizadora do cínicas (www.cinicas.com.br) e feminista sex-positive.

Sobre o blog

Dados e pesquisas sobre sexo e o comportamento dos brasileiros entre quatro paredes. Muita informação, tendências, dados – e experiências próprias! - sobre o assunto. Um espaço para desafiar tabus e moralismos em torno do sexo.

Mayumi Sato