Uma nova pornografia (e produzida no Brasil)
Mayumi Sato
17/10/2017 08h00
Cena da nova série Nox, do canal XPlastic
Que a indústria pornográfica (assim como tantas outras) é problemática e precisa ser confrontada e questionada, é praticamente um consenso. O que continua sendo alvo de muito debate é como lidar com essa questão.
Numa pesquisa realizada pela Conspiração Filmes com cerca de 2 mil mulheres, 76% assumiram assistir a filmes pornográfico e, dessas, quase 90% disseram não se sentir representadas pelo que vêem. O que não espanta, considerando o tipo de conteúdo mais popular distribuído "de graça" (entre aspas porque não existe almoço grátis) por grandes portais de conteúdo.
E, se de um lado há quem se posicione contra a indústria pornográfica e o consumo desse tipo de material, do outro há também uma série de profissionais (entre produtoras, atrizes, diretoras, etc) assumindo o desafio de criar uma nova pornografia, reinventando o pornô.
Alt porn
Gosto de acompanhar todos os lados dessa história, de ouvir e descobrir novos argumentos contra e a favor, assim como acho importante compartilhar essas novas iniciativas que, num mercado tão marginalizado quanto o brasileiro, tem conseguido construir novas narrativas (que vão muito além do produto final, pois englobam fatores delicados como as relações de trabalho do setor, etc).
Uma delas é a Xplastic, a única produtora de altporn (pornô alternativo) do Brasil, que lançou recentemente uma nova série de vídeos, batizada de Nox, que vai ao ar toda sexta-feira em seu site.
A Xplastic nasceu no final dos anos 90 como um desdobramento de uma banda de punk rock. Por isso é natural que, no meio pornô, eles continuem questionando o sistema e os padrões. Hoje ela é uma marca que conseguiu criar uma legião de fãs muito fiéis que compartilham dos seus valores de contravenção, rebeldia e contracultura.
Emme White: estrela da nova série Nox
Pornô para mulheres
Nessa nova série (pornográfica, é sempre bom lembrar), a diretora May Medeiros constrói uma narrativa baseada em estudos do feminino e das bruxas, mulheres conectadas com a sua intuição e a natureza.
Nele, a personagem principal (estrelada por Emme White, atriz ganhadora de 4 prêmios Sexy Hot em 2017), é guiada por fortes energias a seres e lugares desconhecidos e inesperados.
"Nesse filme a Emme representa A Descoberta, enquanto a Nox é uma dessas energias que a atrai. Nox, em latim, significa noite, sombra e penumbra, mas ela também pode ser traduzida como perversão." Explica a diretora.
E é nesse clima de sombras quentes que deixo aqui o trailer de Nox. Os vídeos completos da série podem ser acompanhados no site da Xplastic.
Sobre a autora
Mayumi Sato é meio de exatas, meio de humanas. Pesquisadora e diretora de marketing do Sexlog quer ressignificar a relação das pessoas com o sexo e, para isso, acredita que é preciso colocar a mão na massa, o que inclui decodificar o comportamento humano. Ao longo dos anos, estudando e trabalhando com o mercado adulto, passou a fazer parte de uma rede de mulheres interessadas e ativistas no assunto, por isso sabe que não está – não estamos – só. Idealizadora do cínicas (www.cinicas.com.br) e feminista sex-positive.
Sobre o blog
Dados e pesquisas sobre sexo e o comportamento dos brasileiros entre quatro paredes. Muita informação, tendências, dados – e experiências próprias! - sobre o assunto. Um espaço para desafiar tabus e moralismos em torno do sexo.