Pra começar: esqueça tudo o que você sabe sobre sexo, pornô e fetiche
Mayumi Sato
02/10/2017 08h00
Logo que eu comecei a trabalhar com o que nós chamamos de mercado adulto, foi natural que a primeira providência fosse começar a estudar o segmento buscando dados disponíveis na internet. E aí já começou a confusão.
Como alguém que passou parte da vida se dedicando às exatas, é natural que eu olhe números com alguma desconfiança. Gosto de conhecer a fonte, entender como foi possível chegar àquelas conclusões e, se possível, desafiar os resultados apresentados. Trazendo isso para a minha realidade atual, me deparei com uma infinidade de informações compartilhadas em milhares de sites que linkam uns aos outros e nunca revelam a fonte de origem (e em alguns casos trazem fontes bastante questionáveis).
Os dados vão desde questões relacionadas ao faturamento da indústria do sexo ao redor do mundo, quanto a taxa de mortalidade de pessoas envolvidas nesse meio. E a verdade é que toda essa confusão é fruto de um fenômeno que não é exclusivo da internet: o viés de confirmação. Desde que o mundo é mundo, tendemos a interpretar fatos de uma maneira que eles reforcem nossas crenças.
O que eu quero fazer aqui é trazer resultados que muitas vezes serão não-intuitivos. Ou seja, vão nos desafiar a observá-los sem considerar nossas experiências pessoais – que podem ser muito valiosas em outros momentos da nossa vida, mas não quando queremos entender o comportamento sexual do brasileiro como um todo.
Um exemplo de resultado não-intuitivo:
Quando perguntam em qual dia da semana sites de conteúdo adulto costumam ter mais acesso, é comum que o chute seja sábado ou domingo. Dias tradicionalmente dedicados a um período maior de descanso e para atividades, digamos, recreativas. Mas, ao contrário do que parece, entra ano sai ano, esses picos acontecem principalmente nas segundas-feiras -ou retornos de feriados prolongados. A justificativa? Depois de se dedicar à família nos dias anteriores, segunda-feira é dia de relembrar que existe vida além do seu próprio colchão.
No Sexlog, site do qual sou diretora de marketing, tenho a sorte de ter acesso a uma base de 6 milhões de brasileiros. Através de uma área da empresa dedicada a análise da dados e comportamentos online, é possível descobrir não só como as pessoas se comportam, mas como (e se) esse comportamento varia de ano pra ano, ou de acordo com o mês, ou ainda se acontecimentos externos (como crise, copa do mundo, etc) também impactam na sexualidade das pessoas.
Além disso, frequentemente realizamos pesquisas entre os nossos clientes que geram entre 5 a 30 mil respostas únicas cada. Para se ter uma ideia, uma pesquisa eleitoral para presidente só precisa ouvir cerca de 3.000 pessoas para chegar a um resultado com margem de erro inferior a 2%.
Dito isso, já te peço de antemão: faça uma forcinha pra não se sentir ofendido, porque nada aqui é pessoal. Nada aqui é uma verdade absoluta que se aplica a você e aos seus conhecidos. Mas são dados reais, que refletem o comportamento de um número significativo de pessoas e que podem nos ajudar a compreender um pouco mais da nossa realidade.
E para começar, que tal um desafio? Sem procurar no google, qual você acha que é o fetiche mais popular entre os brasileiros? Me conta e fica de olho na próxima coluna pra saber se acertou!
Sobre a autora
Mayumi Sato é meio de exatas, meio de humanas. Pesquisadora e diretora de marketing do Sexlog quer ressignificar a relação das pessoas com o sexo e, para isso, acredita que é preciso colocar a mão na massa, o que inclui decodificar o comportamento humano. Ao longo dos anos, estudando e trabalhando com o mercado adulto, passou a fazer parte de uma rede de mulheres interessadas e ativistas no assunto, por isso sabe que não está – não estamos – só. Idealizadora do cínicas (www.cinicas.com.br) e feminista sex-positive.
Sobre o blog
Dados e pesquisas sobre sexo e o comportamento dos brasileiros entre quatro paredes. Muita informação, tendências, dados – e experiências próprias! - sobre o assunto. Um espaço para desafiar tabus e moralismos em torno do sexo.