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Mayumi Sato

Existe pornografia educativa?

Universa

14/06/2019 04h43

Photo by Negative Space from Pexels

A discussão do quanto a pornografia pode ser nociva para a construção sexual de um indivíduo é longa, complexa e continuará em pauta por muito tempo. A internet facilitou o acesso a diversos tipos de conteúdo pornográfico, algo que pode ser positivo para a vida sexual de gente que encara a pornografia como entretenimento, mas também tornou adeixou à mão um material a crianças e adolescentes que ainda estão aprendendo o que é sexo.

Ainda assim, é possível repensar a pornografia para que ela seja educativa?

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No mês passado, a Folha realizou um evento em São Paulo que contou com a presença da pesquisadora Gail Dines, que estuda sociologia e questões femininas na Weelock College de Boston, EUA. Dines falou sobre o impacto da pornografia na formação sexual de crianças e adolescentes que hoje acessam conteúdo pornográfico com muita facilidade e estão construindo referências violentas. 

Não é novidade que, por muito tempo, a única pornografia disponível colocou a mulher numa posição exclusiva de submissão, gerando uma percepção de que sexo precisa ser violento e que o papel do homem é transar como víamos nesses filmes. A questão levantada por Gail Dines é indiscutível: a pornografia não pode ser a primeira referência de um indivíduo ao construir sua identidade sexual. 

Estamos falando de uma geração hiperexposta à uma referência sexual muito distante do que acontece na realidade. É uma discussão importante, pois envolve um cuidado dos pais para conversar, olho no olho, e ajudar a construir uma visão mais saudável e real do que é o sexo. 

Apesar das questões nocivas, a pornografia pode ser uma ferramenta de autoconhecimento e educação sexual, afinal é possível ter uma visão mais ampla do corpo e das possibilidades de exploração do sexo com outra pessoa. Não é à toa que já existem produtoras, inclusive nacionais, que se propõem a criar uma visão humanizada da pornografia com pessoas reais, tipos de filmagem diferentes e narrativas mais próximas do que vivemos no dia a dia. 

Sexo tem a ver com conexão, conhecimento e contemplação do próprio corpo e do (a) parceiro (a). A pornografia pode dar referências de como explorar, o que fazer, mas precisa sempre ser questionada e desconstruída, afinal, é apenas mais uma forma de entretenimento. Pornografia não é professora ou cartilha e, não custa reforçar, não deve ser a primeira e única referência na construção sexual de um indivíduo.

Uma boa conversa com quem tem mais experiência, ou com amigos, pode ser saudável e efetiva.

Sobre a autora

Mayumi Sato é meio de exatas, meio de humanas. Pesquisadora e diretora de marketing do Sexlog quer ressignificar a relação das pessoas com o sexo e, para isso, acredita que é preciso colocar a mão na massa, o que inclui decodificar o comportamento humano. Ao longo dos anos, estudando e trabalhando com o mercado adulto, passou a fazer parte de uma rede de mulheres interessadas e ativistas no assunto, por isso sabe que não está – não estamos – só. Idealizadora do cínicas (www.cinicas.com.br) e feminista sex-positive.

Sobre o blog

Dados e pesquisas sobre sexo e o comportamento dos brasileiros entre quatro paredes. Muita informação, tendências, dados – e experiências próprias! - sobre o assunto. Um espaço para desafiar tabus e moralismos em torno do sexo.

Mayumi Sato