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Mayumi Sato

Como enviar nudes e proteger sua privacidade

Universa

10/04/2018 04h00

É possível que nas últimas semanas você tenha ouvido falar do escândalo Cambridge Analytica com os dados de usuários do Facebook. Num tempo em que estamos cada vez mais conectadas, e fornecendo nossos dados para plataformas e aplicativos, privacidade se tornou um assunto urgente e do qual precisamos estar atentas, principalmente quando o assunto é nudes.

Pois é importante lembramos do tal revenge porn, um crime infelizmente ainda muito comum, de vazamento de fotos íntimas como material de vingança. E somos nós mulheres que mais sofremos com fotos íntimas vazadas sem consentimento.

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De acordo com uma pesquisa publicada em 2016 pelo Data & Society Research Institute, uma entre 10 mulheres norte-americanas já foi ameaçada de ter fotos íntimas publicadas e 4% dos usuários de internet dos EUA já foram vítimas de revenge porn. Entre mulheres com menos de 30 anos, o número cresce para 10%.

No Brasil, o Projeto de Lei 5555/13, conhecido como Lei Maria da Penha Virtual, foi aprovado na câmara dos deputados em fevereiro de 2017 e está para ser votado no Senado. A lei reconhece que o vazamento de fotos íntimas é uma forma de violência doméstica e familiar. Para que a acusação seja levada adiante, a vítima precisa que o autor do crime seja identificado. Entretanto, estamos falando de um mundo mediado por sistemas de criptografia, como o WhatsApp, que impedem o rastreamento rápido deste tipo de crime.

A Safernet Brasil, uma ONG que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet, fez em 2016 um levantamento em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público, revelando que houve uma redução no número de vítimas de revenge porn. Em comparação com 2015 houve uma queda de 6,5%, mas 67% das vítimas são mulheres.

Por isso, é importante estar consciente dos riscos de vazamento dos seus dados ou nudes e, principalmente para mulheres, munir-se de informações para tomar melhores decisões na hora de enviar uma foto íntima para alguém. Não é pra parar de se divertir! O mais importante é se informar pra reduzir riscos e curtir mais tranquila. =)

Pensando nisso, listei algumas dicas e cuidados a serem tomados quando o papo ficar mais quente com o crush.

  • Se você tem tatuagens que podem te identificar, use emojis ou stickers em apps de edição de fotos para esconder os desenhos;
  • Use algum tipo de marca d'agua na foto, no meio da foto (pra não dar pra recortar) e se possível de uma forma que seja fácil de identificar para quem você enviou;
  • Não mostre o rosto, proteja sua identidade;
  • Não tire fotos em lugares da sua casa que possam identificar quem você, onde você está ou membros da sua família (em porta-retratos, por ex). Prefira banheiros, motéis ou ambientes neutros;
  • Utilize nicknames e evite linkar as suas redes sociais em apps de relacionamento;
  • Não use uniformes de empresa;
  • Não compartilhe número de WhatsApp logo de cara. Aproveite que os apps e plataformas de encontros oferecem um chat;
  • Use e abuse do texting antes de enviar áudio ou começar uma chamada por vídeo;

Essas dicas vão te deixar mais preparada para compartilhar suas nudes com tranquilidade e consciência. Se quiser ler mais sobre o tema, recomendo este livro do Internet Lab. E lembre-se: conhecimento é liberdade!

Sobre a autora

Mayumi Sato é meio de exatas, meio de humanas. Pesquisadora e diretora de marketing do Sexlog quer ressignificar a relação das pessoas com o sexo e, para isso, acredita que é preciso colocar a mão na massa, o que inclui decodificar o comportamento humano. Ao longo dos anos, estudando e trabalhando com o mercado adulto, passou a fazer parte de uma rede de mulheres interessadas e ativistas no assunto, por isso sabe que não está – não estamos – só. Idealizadora do cínicas (www.cinicas.com.br) e feminista sex-positive.

Sobre o blog

Dados e pesquisas sobre sexo e o comportamento dos brasileiros entre quatro paredes. Muita informação, tendências, dados – e experiências próprias! - sobre o assunto. Um espaço para desafiar tabus e moralismos em torno do sexo.

Mayumi Sato